POLICIA NÃO É PROFISSÃO E SIM VOCAÇÃO.
Nosso Brasil está transformando a polícia em uma instituição de
covardes. Hoje, poucos policiais têm o ímpeto de agir imediatamente
diante de uma injustiça ou de uma situação delituosa. Poucos têm a
vontade de investigar e se expor às ruas e a seus conflitos, poucos têm a
inconsequência de ir, quando a prudência normal e comum recomendam não
ir.
A polícia não é uma profissão de
certezas, de escolhas fáceis e certas, de ausência de riscos, de
legalidades simples dos bancos acadêmicos. Polícia é risco e incerteza
24 horas do dia. Não existe a possibilidade de esperar um criminoso
sacar a arma e apontá-la para você antes de você decidir atirar. Não se
pode pedir sempre um mandado de busca para entrar em uma casa. Não
existe sempre situações claras de risco e de flagrante delito que lhe
permitam saber 100% do sucesso de suas escolhas e suas ações. Nas ruas é
sacar a arma antes e atirar, entrar sem pensar para surpreender e não
ser surpreendido. A polícia não é uma profissão de certezas e legalismo
acadêmico. Não podemos transformar nossos policiais em pessoas acuadas e
com medo de agir, com medo de responder por crimes, por abusos, por
excessos.
Claro que não se pode permitir tudo, autorizar desmandos,
torturas, abusos de autoridade. Mas não se pode exigir certezas e
antecipações que os imprevistos das ruas não permitem. Não podemos
colocar nossos policiais em uma situação de desconfiança prévia em
relação aos seus atos que os imobilizem, não podemos exigir garantias
que não podemos dar aos nossos policiais. Prejulgando ações policiais
como de má-fé, transformamos nossos protetores em covardes que têm medo
da decisão, que preferem não sair às ruas para investigar e prender.
Hoje na polícia é mais cômodo não fazer nada, pois aí você evita os
riscos das decisões incertas e os procedimentos que delas advém. Ocorre
que isso é o fim da polícia, de nossos cães pastores, de nossos
protetores.
Desgastes, equívocos e erros sempre existirão na
atividade policial; mas nenhum erro será maior para a sociedade do que
transformar a polícia em um lugar de covardes burocratas, que se
escondem atrás de procedimentos e regras acabadas que não resolvem o
imediatismo do pavor de um crime acontecendo.
Precisamos de
policiais um pouco inconsequentes – pois ninguém em um raciocínio lógico
e normal vai enfrentar criminosos que não tem nada a perder ou a ganhar
- que não tenham medo da morte, que anseiem pelo confronto, que tenham
coragem de ir quando a prudência mandar não ir. Não existe o discurso do
herói, do fazer o bem para a sociedade, do transformar o mundo em lugar
melhor quando apontam uma arma para você. Ninguém vai pra rua quando o
confronto é iminente e a derrota certa, seja morrendo ou voltando vivo
para casa. Logo nossa polícia será formada apenas por covardes. Logo o
caos habitará entre nós.
Texto de Rafael F. Viana - Delegado de Polícia do Estado do Paraná
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